Categoria: Internet "Doente de Parkinson sofre mais fraturas"

Revisão de estudos revela que o risco de o paciente fraturar a região do quadril dobra em relação às pessoas sem a doença

Alguns dos motivos são o fato de os parkinsonianos se locomoverem menos por causa dos sintomas motores e de tomarem menos sol

Rafael Hupsel/Folha Imagem
Raimundo Campelo, 70, portador de Parkinson, faz fisioterapia na clínica da Associação Brasil Parkinson

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tremores, rigidez, lentidão dos movimentos. Além desses sintomas clássicos -e, em grande parte, por causa deles-, o paciente com Parkinson enfrenta um outro desafio: o maior risco de ter fraturas ósseas. O alerta é de um artigo publicado no "Journal of the American Academy of Orthopaedic Surgeons", uma revisão de estudos feita no Suny Downstate Medical Center, de Nova York (EUA).
Uma das pesquisas acompanhadas revelou, por exemplo, que o risco de fraturas após o diagnóstico de doença de Parkinson dobra. Nesse estudo, 27% dos pacientes sofreram fraturas no terço proximal do fêmur (região do quadril) ao longo de dez anos, enquanto 14% das pessoas sem a doença tiveram o mesmo problema.
A mortalidade entre esses pacientes também foi maior: no período do estudo, 30% deles sobreviveram, versus 49% no grupo sem o problema.
Um dos motivos apontados pelos pesquisadores para a maior susceptibilidade é o fato de pessoas com Parkinson se locomoverem menos devido às dificuldades geradas pelos sintomas motores.
Isso contribui para a redução na massa óssea, o que favorece a ocorrência de fraturas. "Tudo o que não é usado se atrofia, enfraquece. Com os ossos acontece o mesmo", comenta Alexandre Kokron, ortopedista do Departamento de Geriatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) e do hospital Albert Einstein.
Outra razão observada pelo artigo é que, devido à falta de mobilidade, muitos parkinsonianos ficam mais tempo dentro de casa. Por isso, tomam menos sol -hábito fundamental para sintetizar vitamina D, um nutriente importante para a saúde dos ossos.

Equilíbrio
O neurologista João Carlos Papaterra Limongi, professor da USP, acrescenta mais um fator: um dos sintomas da doença é a dificuldade para se equilibrar, o que favorece quedas. Como os ossos já estão mais frágeis, a possibilidade de fraturas aumenta. "O desequilíbrio costuma surgir a partir do quinto ano de evolução da doença. Com dez anos, muitas vezes as quedas já são frequentes", afirma Limongi.
Erika Okamoto, fisioterapeuta da Associação Brasil Parkinson, lembra que pessoas com a doença tendem a dar passos menores, o que contribui para o desequilíbrio, e a andar arrastando os pés, o que favorece tropeções.
Para minimizar o problema, ela diz que é preciso ganhar mais consciência dos movimentos. "Coisas que a pessoa fazia automaticamente passam a exigir treino. Ela tem que pensar no movimento para fazer melhor."
Segundo Kokron, outro agravante é que quem tem Parkinson costuma ficar com os reflexos comprometidos. "Esses pacientes não têm tanta capacidade de reação, aquele reflexo de proteção que faz as pessoas esticarem o braço para amortecer parte de uma queda", diz.
O ortopedista lembra que a propensão a fraturas depende de fatores individuais, como a quantidade de massa óssea que a pessoa acumulou na juventude. As fraturas mais comuns são nas vértebras, mas as mais graves são as do terço proximal do fêmur.

Prevenção
De acordo com o estudo americano, quando os parkinsonianos precisam de cirurgia, a recuperação também é pior do que a de pessoas saudáveis. "Tudo é mais lento no Parkinson. Claro que depende de cada situação, mas um idoso saudável até se recupera bem de uma fratura no quadril. Já o paciente com Parkinson tem mais dificuldade", diz Okamoto.
O melhor, portanto, é prevenir. A recomendação dos especialistas é iniciar a fisioterapia o quanto antes, já que os exercícios ajudam a fortalecer a musculatura e os ossos.
Entre as atividades propostas há alongamentos, exercícios posturais e de equilíbrio, sempre associados a movimentos respiratórios. Os exercícios são de dois tipos: os básicos -que podem ser feitos por todas as pessoas- e os mais específicos para cada caso.
Também é importante manter em dia o tratamento do Parkinson, pois quem não controla a doença tem mais dificuldade para se locomover, o que aumenta a propensão à perda de massa óssea.
Em alguns casos, o médico pode receitar também remédios contra a osteoporose. "O tratamento é basicamente o mesmo que vale para qualquer idoso com osteoporose. A diferença é que, no idoso com Parkinson, tendemos a ser mais incisivos e a dar remédios com mais facilidade, por exemplo, por sabermos que ele tem mais chance de cair e de fraturar", diz Kokron.