Era eletrônica pôs fim ao espírito de Woodstock

Orlando Lizama.


Washington, 15 ago (EFE).- O espírito de amor e paz engendrado há 40 anos pelo festival de Woodstock se perdeu como resultado dos avanços da eletrônica, que alteraram os valores da juventude atual, segundo afirmam alguns dos que participaram desse acontecimento cultural.


Foram três dias de sol e chuva de um fim de semana de agosto de 1969 para milhares de jovens que se reuniram em Woodstock, perto da localidade nova-iorquina de Bethel, não só para escutar música, mas também para declarar seu amor ao próximo, sua rejeição à guerra e sua busca de igualdade.


Para Bette Dickerson, socióloga da American University em Washington, esse foi um momento crucial da história do país.


"Eram os tempos do movimento dos direitos civis, a era da felicidade, a era do amor livre, da amizade, dos hippies e também da Guerra do Vietnã", disse à Agência Efe em entrevista.


Mas Dickerson, de 59 anos, que diz ter sido testemunha dos eventos dessa época, acrescenta com nostalgia que esse espírito já quase não existe e que a juventude atual parece ser agora mais indiferente.


"Os jovens foram enrolados pela tecnologia. Antes era muito mais fácil estabelecer uma compenetração humana. Hoje os jovens se comunicam pela internet, pelo Facebook e até se expressam através do YouTube", disse.


Para David Bingham, de 62 anos, que esteve no festival, Woodstock foi também "um ponto de inflexão da história deste país" e agora tudo mudou.


"Já não existe o espírito de solidariedade que nos encorajava, que nos levava a protestar contra a guerra, a expressar nosso amor pelo próximo", falou.


Bingham acrescentou que com esse espírito Woodstock conseguiu reunir "milhares de pessoas para escutar música e falar de paz e amor".


"Hoje talvez tenhamos mais amigos, mas não há contato pessoal, em muitos casos essa amizade se nutre apenas através de um endereço eletrônico", ressaltou.


Segundo o Centro Pew de Pesquisas sociológicas, o festival de Woodstock glorificou e exacerbou a divisão de gerações de então, e hoje persistem as diferenças entre os jovens e os adultos sobre os valores, o uso da tecnologia, a ética de trabalho, o respeito e a tolerância ao próximo.


No entanto, segundo acrescenta, esse abismo moderno entre gerações é muito mais apagado que o da década de 1960, porque são poucos os que o consideram uma fonte de conflito, seja na sociedade ou em suas próprias famílias.


Em resumo, "as gerações encontraram a forma de discordar sem deixar de ser descorteses", segundo assinala.


Mais ainda, existe um acordo que une todas as gerações em torno de um ponto cultural de conflito colocado desde o começo da década pela irrupção sem freio do rock and roll.


Nas quatro décadas transcorridas desde Woodstock esse ritmo, que então era o que muitos chamavam de "contracultura", se transformou na música mais popular, tanto para os jovens como para os adultos mais velhos.


Uma pesquisa realizada em 1966 mostrou que o rock and roll era a música menos popular da época. Quase a metade dos adultos consultados (44%) disse diretamente que a odiava e apenas 4% afirmou que era de seu agrado.


Mas uma pesquisa por telefone realizada pela Pew entre 20 de julho e 2 de agosto passados, confirmou que para mais de um terço dos consultados (35%) o rock and roll é sua música preferida.


Nessa consulta feita com 1.814 idosos de 16 anos, o segundo lugar (27%) foi para a música country, seguida pelo rhythm and blues (22%) e o rap (16%). EFE