Idade é o único fator para decidir onde investir seu dinheiro?

Sophia Camargo
Quem já se dedicou a ler algum manual de finanças pessoais já ouviu que a idade certa para correr mais riscos é quando se é jovem. Certamente a juventude é um aliado de quem quer se arriscar, pois se a pessoa tomar um tombo na Bolsa e perder o dinheiro, ainda terá tempo para juntar novamente outro capital. Mas será que essa premissa é sempre verdadeira? A resposta é não.

Basear-se unicamente no fator idade para escolher onde investir não é a maneira correta de aplicar seu dinheiro, alertam dois especialistas ouvidos nesta reportagem: Luiz Gustavo Medina, da M2 Investimentos, e o professor de Finanças das faculdades FGV e PUC Fábio Gallo.


Dois fatores
Para Gallo, quando as pessoas tomam suas decisões de investimento baseadas na própria idade, elas estão levando em conta apenas um dos fatores importantes a se considerar: o tempo que se tem para investir. Mas se esquecem do outro fator fundamental de decisão: qual é a importância que aquele dinheiro tem para o investidor.

Para deixar bem claro. Se uma pessoa está juntando dinheiro para se casar ou comprar um apartamento, não importa se ela tem 20, 30 ou 40 anos, ela simplesmente não pode correr nenhum risco com esse dinheiro. O fator idade é irrelevante, porque não é possível arriscar.

Jovem x idoso
"É equivocado pensar que um jovem pode arriscar muito na Bolsa e alguém na terceira idade não deve comprar ações", diz Medina. "Se o jovem só tem R$ 10 mil e é sua única poupança para fazer a faculdade, ele não pode arriscar. Se um homem de 60 anos tem R$ 5 milhões na conta, ele pode investir R$ 1 milhão em ações", exemplifica o consultor.

Outro exemplo. Se uma pessoa ganha R$ 500 e gasta R$ 450, ela não pode correr risco com os R$ 50 que tem para aplicar, pois não há sobra suficiente para que ela se recupere de um revés financeiro que ocorra num mês. Agora se uma pessoa ganha R$ 20 mil e gasta R$ 2.000, não tem sentido ela guardar os R$ 18 mil na poupança, afirma Medina. Isso também independe da idade.

Outro furo na teoria da idade, explica o professor Fábio Gallo, é que, na vida real, o que mais acontece é que as pessoas mais jovens, que em tese teriam mais potencial para arriscar seu patrimônio por conta do tempo disponível para se recuperar de revezes, não costumam dispor, em sua maioria, de um capital que permita arriscar.

Já os mais velhos tiveram tempo de construir sua poupança e podem diversificar por conta do tamanho do bolo. Para decidir onde investir, a pessoa tem que avaliar o tempo, a importância do dinheiro, seu objetivo, seu apetite para o risco. "Tudo isso deve ser levado em conta", diz.

Levando em conta esses parâmetros de tempo e objetivo do investimento, pedimos aos especialistas para sugerirem algumas composições de carteira.

Pouco risco
O tempo para investir é curto; a importância do dinheiro é fundamental. Exemplo: única reserva para comprar apartamento, para fazer faculdade, para sobreviver ao desemprego.

Sugestão de Luiz Gustavo Medina:
Aplicar 80% em renda fixa: fundos DI, renda fixa, CDBs e 20% em fundos multimercados.

Sugestão de Fábio Gallo:
Aplicar 100% em renda fixa: poupança, CDB, fundos DI, fundos de renda fixa

Alto risco
O prazo para investir é grande; o dinheiro a ser aplicado tem pouca ou nenhuma importância para a sobrevivência do investidor.

Sugestão de Luiz Gustavo Medina
30% em renda fixa
50% em fundos multimercados
20% em ações

Sugestão de Fábio Gallo
20% em renda fixa
40% em aplicações de médio risco (multimercados, imóveis)
40% em alto risco (ações, derivativos)