Ted Kennedy deixa pegada permanente na política americana, segundo analistas




María Peña.


Washington, 26 ago (EFE).- O senador Edward Kennedy, ícone da ala liberal do Partido Democrata e defensor das minorias e dos trabalhadores, deixa, com sua morte, uma pegada permanente na política americana, por sua rara mistura de idealismo e pragmatismo e sua capacidade de forjar alianças com rivais, segundo analistas.


Dentro e fora do Congresso, onde as bandeiras foram hasteadas a meio mastro, a classe política e inúmeros grupos civis deram seu triste adeus ao patriarca dos Kennedy, que faleceu durante a noite de terça-feira, em sua residência em Hyannis Port, no estado americano de Massachusetts, aos 77 anos, devido a um câncer cerebral.


Segundo analistas consultados pela Agência Efe, Kennedy é um legislador "único" e não só por sua marca deixada em centenas de leis a favor dos direitos civis, da justiça social, de salários decentes para os trabalhadores, da educação, do serviço comunitário e dos direitos das minorias, mulheres e homossexuais, entre tantos outros assuntos.


"Dificilmente encontraremos uma lei que não tenha sua pegada. Sua morte é uma enorme perda, por tudo o que ainda tinha para fazer, não só na reforma no sistema de saúde, que era sua grande paixão, mas também em outras leis, como a de facilitar a formação de sindicatos", disse Ross Eisenbrey, vice-presidente do Instituto de Política Econômica.


"Era todo um mestre em política, com uma rara mistura de idealismo e pragmatismo, capaz de se colocar na posição do outro, talvez pelas tragédias que viveu sua família. Tinha uma fixação quase religiosa aos detalhes pessoais e isso o fazia conectar bem com o povo", acrescentou Eisenbrey, que recebeu várias cartas de Kennedy, escritas à mão.


O legado de Kennedy, após 47 anos de carreira política, é tão grande quanto será sua ausência no Senado, que mantém um inflamado debate sobre a maior reforma no sistema de saúde da história recente dos Estados Unidos.


Kennedy, o mais novo de nove irmãos, jamais chegou à Presidência, o que parecia inevitável em 1980, mas esse "fracasso" foi ironicamente o que o permitiu se transformar no mais influente dos senadores e, após Robert Byrd e Storm Thurmond, o terceiro a ocupar o cargo por mais tempo.


"A moral da história de sua história é que não é necessário ser presidente para efetuar uma mudança. O senador Kennedy foi um grande líder nacional, após abandonar suas aspirações presidenciais, e utilizou o Senado como um veículo para promover uma vasta agenda social", disse Don Ritchie, um estudioso do Senado.


"No Senado, teve o tempo e a persistência para recuperar muitas leis, algo que pode levar anos. Era muito querido e respeitado, porque tinha o dom de persuadir e de formar coalizões com os republicanos, de torcer braços sem causar ressentimentos", disse Ritchie.


Sua pegada está na lei de direitos civis de 1964, no direito ao voto, na lei sobre segurança no trabalho, na de proteção aos incapacitados, nos direitos reprodutivos da mulher, na expansão da cobertura médica para idosos, nas melhorias na educação e em uma lei que leva seu nome e que amplia os programas nacionais de serviço comunitário, aprovada este ano.


Kennedy foi peça-chave em leis que deram passagem "às maiores reformas de nosso estabelecimento militar e de defesa desde o fim da Segunda Guerra Mundial", segundo o assessor de Segurança Nacional James Jones.


A comunidade hispânica perdeu um amigo e um aliado, já que Kennedy sempre foi favorável à abertura de portas para os imigrantes, refugiados e asilados e foi um dos arquitetos da fracassada reforma migratória de 2007.


Sua primeira grande vitória legislativa foi em 1965, depois de eliminar as cotas de vistos para países não europeus. Isso encorajou o fluxo de asiáticos e latino-americanos que agora mudaram a cara do país.


Foi Kennedy quem saiu em defesa dos muçulmanos, discriminados após os atentados de 2001, e que apoiou sua inclusão no diálogo político nacional, segundo o Conselho de Relações Americano-islâmicas.


As feministas também choram sua morte, já que, segundo a presidente da Organização Nacional para as Mulheres, Terry O'Neill, Kennedy "foi um defensor das mulheres, das crianças e dos marginalizados e tinha o compromisso de abrir espaço para todos, especialmente para os que foram privados do 'sonho americano'".


Embora a educação e a reforma na saúde tenham sido duas de suas paixões, Kennedy também influenciou na política externa e foi um dos mais fortes opositores à Guerra do Iraque, durante o Governo de George W. Bush.


Com a morte de Kennedy, o presidente Barack Obama perde um importante aliado para sua agenda política.


Obama lamentou a morte de "um grande líder" e o fim de "um importante capítulo da história" dos EUA. EFE