Segredo dos superidosos: maiores de 80 que esbanjam vigor abrem via para entender longevidade


De: Renato Grandelle
RIO - Nenhum octogenário é tão rápido e resistente quando Oswaldo Silveira. O maître paulista estava entre os 28 participantes mais velhos dos 45 mil que correram a Maratona de Nova York, a mais famosa do mundo, em novembro. Foi o campeão do grupo. Completou o percurso em 4 horas e 33 minutos. Um mês depois, ainda colhe os louros da fama. Volta e meia precisa interromper seus treinos, em Campos do Jordão, para tirar fotos com quem o reconhece.
Oswaldo Silveira participa de maratona


Atende aos pedidos com humildade, mas uma certa marra não faz mal a ninguém: garante que venceria um desafio contra o neto, um sedentário de 21 anos. O desejo de novas conquistas - inclusive o torneio familiar - faz do atleta um símbolo do que é conquistar longevidade sem perder vigor.
Com o avanço da medicina, chegar à terceira idade não é exatamente uma façanha. De acordo com a pirâmide etária divulgada pelo Censo 2010, 22,7 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais. Um terreno desconhecido, ainda pouco contemplado por pesquisas, é como envelhecer com qualidade de vida.
Não existe uma receita pronta, mas aqui e ali há consensos. O primeiro: manter a saúde na terceira idade é uma conquista multidisciplinar. Não adianta, por exemplo, ter uma alimentação regrada se a rotina for estressante. Outra unanimidade no discurso dos especialistas é quase um consolo aos mais preguiçosos: nunca é tarde para começar. Que o diga Oswaldo, que só foi calçar tênis de corrida aos 56 anos.
- Eu só jogava futebol, mas a barriga estava grande e ficou muito cansativo - lembra. - Como não tinha tempo para academia, resolvi só correr. Hoje treino cinco vezes por semana, de 10 a 15 quilômetros por dia. Há 17 anos um instrutor me acompanha. Desde então, já foram 11 maratonas.
Oswaldo atribui o pique à dieta controlada e aos genes. Seu pai, que morava no interior de São Paulo, chegava a andar 30 quilômetros para visitar alguém.
O corredor não é o único a recorrer à biologia para explicar sua vitalidade. Uma teoria amplamente estudada considera que os telômeros, uma estrutura presente nas extremidades dos cromossomos, pode determinar a nossa longevidade. Os telômeros são reduzidos à medida que as células se dividem. Em determinado momento, esta perda sacrifica genes, vitalidade e função das células filhas, provocando o envelhecimento.
Outra estrutura celular decisiva seriam as mitocôndrias, responsáveis por transformar alimento em energia. Se uma mitocôndria envelhecer mais rapidamente, ela reduziria a vitalidade de seu grupo.
- Ainda não há uma explicação definitiva para sabermos como se dá o envelhecimento em nível biológico - ressalta Fernando Bignardi, coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). - Há animais, como medusas, que vivem eternamente. Eles não envelhecem. Só morrem se alguém comê-los. Não sabemos por que isso acontece.
Na falta de uma resposta, os médicos preocupam-se em reformular outros conceitos. Longevidade, por exemplo, era associado apenas à vida longa. Agora, também incorpora a ideia de qualidade.